Síndrome do segundo livro

Síndrome do segundo livro.

Muito se fala sobre a dificuldade de publicar o primeiro livro: vencer os bloqueios criativos e conseguir uma editora para editá-lo. Menos comentada, mas nem por isso menos temida, é a síndrome do segundo livro. E ela costuma manifestar-se principalmente quando o primeiro livro obteve boa repercussão, muitas vezes até elevando seu autor à categoria de escritor revelação. Nesses casos, o medo de que sua segunda obra não seja tão bem recebida pode provocar alguns sintomas, como a volta do bloqueio criativo, o adiamento de um novo livro ou, pior dos casos, o abandono da carreira literária. Nesse artigo vamos ver um pouco mais sobre essa síndrome e o que está em jogo quando ela aparece.

Origens da síndrome do segundo livro

O sonho de todo autor estreante é que sua primeira obra obtenha tamanho sucesso que compense todos os anos esperando que seu original fosse lido e aceito pelas editoras. Quando isso finalmente acontece, imagina-se que daí pra frente exista apenas a glória, certo? Não! Daí pra frente existe a síndrome do segundo livro, que em outras palavras significa o temor de que seu próximo trabalho não mereça o mesmo destaque que o primeiro livro. E normalmente esse temor é alimentado pela pressão que o escritor sofre do seu público, da mídia e, muitas vezes, da própria família e amigos.

escrevendo o segundo llivro
Ilustração de Melanie Matthews

Recentemente, o jornal O Globo fez uma matéria com quatro escritores brasileiros que, segundo o jornalista, estariam passando pelo que ele chamou de “indefectível ‘síndrome do segundo livro’, que assola escritores (e cineastas, músicos) que tiveram êxito no primeiro trabalho”. Eram eles Flávio Izhaki, Ieda Magri, Andréa Del Fuego e Wesley Peres, todos tendo tido uma estreia literária aclamada. De cabeça baixa (2008), primeiro romance de Izhaki, foi bem recebido tanto pelo público quanto pela crítica e o autor foi convidado a participar da antologia de literatura brasileira contemporânea que será lançada este mês em Frankfurt. Ieda Magri teve sua estreia exaltada com Tinha um lugar aqui (2007), enquanto Del Fuego viu seu primeiro livro, Os malaquias (2010), vencer o renomado Prêmio José Saramago. A estreia de Wesley Peres veio justamente de um prêmio, já que Casa entre vértebras foi o ganhador do Prêmio SESC de Melhor Romance de 2006.

E o segundo livro é…

Afinal de contas, a síndrome do segundo livro procede? É realmente muito difícil repetir o êxito da primeira obra ou, pelo contrário, há chances de que esse segundo trabalho sobrepuja o primeiro? O jornal inglês The Times fez uma lista de dez casos de autores que obtiveram sucesso no segundo livro (retirado daqui). São eles:
1. Orgulho e Preconceito, de Jane Austen (1813)
Lançado dois anos depois de Razão e Sensibilidade e antes de a autora completar 21 anos. É considerado a obra-prima de Austen.
2. Ulisses, de James Joyce (1922)
Romance que marcou a história da literatura moderna, é considerado superior ao livro de estreia de Joyce, Retrato de um artista quando jovem.
3. Os filhos da meia-noite, de Salman Rushdie (1980)
Ganhou, em 1981, o conceituado prêmio de literatura em língua inglesa Booker Prize e, em 1993, o título “Booker of Bookers Prize”, dado ao melhor livro publicado nos primeiros 25 anos do prêmio. O livro de estreia de Rushdie foi o desconhecido Grimus.
4.Vile Bodies, de Evelyn Waugh (1930)
Considerado pelo Times mais engraçado do que o livro de estreia, Declínio e Queda, esse livro é pouco conhecido no Brasil.
5. Oliver Twist, de Charles Dickens (1838)
Considerado melhor do que o romance de estreia de Dickens, As aventuras do Sr. Pickwick.
6. Garota com brinco de pérola, de Tracy Chevalier (2000)
Tornou-se bastante popular após o filme feito com Scarlett Johanson. A própria autora considera seu primeiro livro uma obra de colecionador.
7. The Golden Notebook, de Doris Lessing (1962)
Doris Lessing ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2007.
8. A vida de Pi, de Yann Martel (2001)
Venceu o Man Booker Prize de 2002 e esteve no centro de uma polêmica ao ter sido acusado de plagiar o escritor brasileiro Moacyr Scliar.
9. Os belos e malditos, de F. Scott Fitzgerald (1922)
Ainda assim, é menos conhecido do que o terceiro romance de Fitzgerald, O Grande Gatsby
10. The Mill on the Floss, de George Eliot (1860)
Esse clássico representativo da sociedade inglesa vitoriana foi o que consagrou Eliot, pseudônimo de Mary Ann Evans.
síndrome do segundo livro
Ilustração de Milan Hulsing

Mas nem tudo são flores. Alguns conseguem obter um êxito maior com o segundo livro do que com o primeiro (como vimos acima), alguns não conseguem repetir o mesmo sucesso e alguns sequer chegam a lançar um segundo livro. O escritor espanhol Enrique Vila-Matas escreveu Bartleby & Companhia, um livro que aborda o que ele chama de Síndrome de Bartleby, nome dado ao mal que atinge alguns autores que, principalmente, após atingirem o êxito literário, param de produzir. A expressão é inspirada no romance de Herman Melville Bartleby, o escrivão, no qual começa a preferir a “não fazer nada”, até para de vez de fazer qualquer coisa.

 Você já conhecia a síndrome do segundo livro? Deixe suas impressões a respeito.

Tags: | | |

ESCREVA HISTÓRIAS INESQUECÍVEIS

ESCREVA HISTÓRIAS INESQUECÍVEIS

BAIXE AGORA GRATUITAMENTE A FERRAMENTA INDISPENSÁVEL PARA QUEM QUER FISGAR O LEITOR DO INÍCIO AO FIM

Não enviamos spam. Seu e-mail está 100% seguro!

Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

Este site utiliza cookies e tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência. Ao utilizar nosso site você concorda que está de acordo com a nossa Política de Privacidade.

error: Content is protected !!