Como escolher o ponto de vista

Como escolher o ponto de vista.

No post de ontem, O que aprender com “As gêmeas da família”, apontei como destaque da narrativa o uso pela autora de múltiplos e surpreendentes pontos de vista. Mas o que é ponto de vista em criação literária? Como escolher o mais adequado ao nosso livro? Nesse artigo vou dar dicas de como escolher o ponto de vista que melhor sirva aos propósitos da história.

O que é ponto de vista

Em literatura, ponto de vista é como chamamos a perspectiva, ou ângulo, a partir da qual a história é contada. O ponto de vista está intimamente relacionado ao narrador escolhido. Se estivermos trabalhando com narrador em primeira pessoa, o ponto de vista será o desse narrador. No entanto, se estivermos trabalhando com narrador em terceira pessoa, podemos ter um único ponto de vista ou vários.

como escolher o ponto de vista
Um narrador em terceira pessoa onisciente favorece a utilização de múltiplos pontos de vista. Na verdade, todos os personagens podem ter seu ponto de vista apresentado ao longo da história, no entanto isso poderia se tornar bastante confuso. O mais comum é o autor escolher apenas um ou alguns personagens.
No livro “As gêmeas da família”, resenhado no post de ontem, Stella Maris Rezende trabalha com um narrador em terceira pessoa onisciente e utiliza múltiplos pontos de vista. Isso significa que o narrador tudo sabe, tudo vê, tudo sente, mesmo o que não é perceptível aos demais personagens. E os múltiplos pontos de vista apresentados correspondem ao olhar de objetos tão inusitados quanto uma xícara de porcelana ou uma chave. Veja um trecho do livro no qual as três protagonistas são mostradas segundo o ponto de vista da parede do quarto delas:
As paredes do quarto das trigêmeas conferiam, mais do que ninguém, que elas não eram amigas, mas que fingiam que eram, quando saíam para arranjar namorado. Naquele tempo, era comum as moças saírem toda tarde, mais ou menos a partir das seis e meia, e ficarem andando pela praça principal, de um lado para o outro, inúmeras vezes, enquanto os rapazes ficavam encostados em bicicletas, lambretas ou bancos de ferro batido, todos ali na praça, aquela juventude toda só pensando em namorar. As paredes do quarto delas, pintadas de branco de zinco, testemunhavam o tamanho do ódio que uma sentia pela outra. Dentro daquelas paredes, as irmãs não precisavam fingir amistança.

alterne o ponto de vista

Como definir o ponto de vista

A primeira coisa a fazer é decidir se quer a sua história contada a partir de um único personagem ou vários. Se optar por um narrador em primeira pessoa, o ponto de vista vai estar limitado ao do narrador. Por outro lado, o tom tende a ser muito mais pessoal, mais íntimo, por vezes beirando a confissão. Mas se optar por um narrador em terceira pessoa, especialmente se for onisciente, poderá dispor de vários pontos de vista. Essa opção cria uma maior versatilidade em termos de criação literária, mas é preciso que a transição entre um e outro seja bem marcante para não gerar confusão ao leitor.
No caso de estar trabalhando com um narrador onisciente e vários pontos de vista, você pode decidir-se entre apropriar-se do olhar de personagens principais, secundários ou inanimados – como foi o caso do livro As gêmeas da família. O mais importante é criar afinidade entre os personagens que terão voz narrativa e o leitor. Este precisa perceber o mundo pelos olhos dos personagens-narradores, sentir como se estivesse ocupando a mesma posição que eles.
É importante que, seja qual for a sua escolha, o ponto de vista pareça verossímel ao leitor. Ele precisa acreditar no que está sendo narrado e sentir-se confortável com os múltiplos pontos de vista, se for o caso. E, se além disso você conseguir também supreender o leitor, haverá grande chance de cativá-lo para que permaneça interessado em sua história.

Qual foi o ponto de vista mais interessante que você já viu em um livro?Conte para nós.

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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