Adaptações literárias: conheça O mistério dos sete relógios antes de estrear na Netflix

Em 15 de janeiro do próximo ano (2026) estreia na Netflix a minissérie Os sete relógios de Agatha Christie, baseada no livro O mistério dos sete relógios, publicado em 1929. Este foi o segundo romance que Agatha Christie escreveu após o divórcio de seu primeiro marido, Archibald Christie. Mas o que essa obra tem de tão interessante para merecer uma minissérie no serviço de streaming?

Já vou começar dizendo que esse romance policial não traz nem Poirot nem Miss Marple, os dois detetives mais conhecidos da autora. Aqui nós vamos ter a detetive amadora Lady Eileen Brent, que é a protagonista, acompanhada dos amigos, Bill, Jimmy e Loraine. O mistério dos sete relógios conta ainda com a presença do Superintendente Battle, um dos detetives criados por Agatha Christie que já marcou presença em outros quatro livros: O segredo de Chimneys, Cartas na mesa, Matar é fácil e Hora Zero. Battle é um oficial da Scotland Yard cuja especialidade são crimes de diplomacia internacional ou política.

Aliás, O mistério dos sete relógios tem uma relação direta com um desses livros de mistério lançados anteriormente. É um romance que, se não chega a ser uma continuação, traz novamente à cena alguns personagens do livro O segredo de Chimneys, que era essencialmente um thriller político, e alguns de seus personagens principais retornam aqui: Lord Caterham, o dono da mansão de Chimneys, Lady Eileen Brent, sua filha, e o Superintendente Battle, da Scotland Yard. Detalhe: nenhum desses personagens aparece no início da história.

A história se passa em duas locações. Inicialmente, na mansão de Chimneys, uma casa de campo inglesa que, apesar de fictícia, dizem que foi inspirada em Abney Hall, em Cheadle (Inglaterra), uma casa que pertencia ao cunhado de Christie. Lord Caterham, o dono mansão de Chimneys, alugou a casa por temporada a um magnata, Sir Oswald Coote, e sua esposa. O casal convidou um grupo de jovens para o fim de semana: Jimmy, Nancy, Helen, Soquete, Gerry. Bill e Ronny Devereaux. Em um segundo momento, a trama se desenrola na cidade de Londres, principalmente na área de Covent Garden.

Assim como no livro anterior, O segredo de Chimneys, essa também é uma história em que Agatha Christie envereda mais para o thriller do que para o tradicional romance de mistério de seus outros livros. Segundo o site oficial da autora, ela achou os “thrillers leves” fáceis de escrever, pois não exigiam muita trama ou planejamento. Então nós temos uma narrativa um pouco diferente do que estamos acostumados com os livros de Agatha Christie mas, talvez por isso mesmo, é tão instigante.

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Para começar, o título original em inglês é Seven Dials Mystery. Seven Dials é um ponto histórico de Londres, um cruzamento de ruas em Covent Garden, que é um bairro vibrante conhecido por suas lojas independentes, restaurantes e bares.

No livro, o termo Seven Dials (que em tradução literal significa “sete mostradores”) refere-se a dois episódios da narrativa. Primeiramente, está relacionado ao fato desencadeador, que é o momento da narrativa que dá início à trama propriamente dita. Bill, Jimmy, Nancy, Helen, Soquete e Ronny fazem uma brincadeira com Gerry, um dos jovens hospedados na mansão. Gerry não consegue acordar cedo e sempre chega atrasado para o café da manhã. Então seus amigos colocam oito despertadores debaixo da cama do rapaz para tocarem todos ao mesmo tempo. No entanto, a brincadeira dá errado. O rapaz não acorda para o café da manhã e, quando eles vão até o quarto, Gerry está morto e um dos despertadores sumiu, restando apenas sete.

O segundo episódio relacionado à expressão Seven Dials é que este é também o nome da organização secreta que surge ao longo da história e é um ponto focal de todo o mistério. E os protagonistas terão que se infiltrar nesta sociedade secreta para descobrir a verdade sobre o crime cometido na história.

Após a morte de Gerry, Lord Caterham e sua filha Eileen, mais conhecida como Bundle, retornam de viagem e, então, acontece o segundo crime. Enquanto está dirigindo, Bundle atropela um rapaz mas, quando ela o leva para o hospital, percebem que o que o matou não foi o atropelamento, mas um tiro que ele havia tomado antes de atravessar na frente do carro de Bundle.

A polícia começa a investigar os dois casos mas Bundle decide tomar as rédeas da situação para descobrir a verdade. E aí temos o momento em que a trama começa realmente a se desenvolver. A investigação de Bundle rapidamente a leva a uma conspiração muito mais séria e complexa do que um simples assassinato em uma casa de campo. É quando ela descobre a existência da sociedade secreta Seven Dials e se vê em uma corrida contra o tempo, lidando com segredos internacionais e um assassino perigoso.

Ao longo da narrativa observamos duas investigações contrastantes: de um lado a investigação levada adiante pelo Superintendente Battle, que é uma figura secundária no início do livro e, de outro, o foco na investigação feita por Bundle, com sua coragem e sagacidade não convencionais para a época, que eu diria que é o tempero da história.

Vemos perfeitamente aí a diferença desta para outras obras de Agatha Christie. Como já foi dito, este é um livro que envereda para o campo do thriller político, com consequências muito maiores do que os crimes tradicionais de mistério da autora. E isso também pode ser percebido no ritmo da narrativa. Thrillers costuma ser mais ágeis, então neste livro acompanhamos os fatos se desenrolando de uma forma mais ágil e, além disso, sentimos o perigo mais de perto para os personagens. Enquanto Poirot e Miss Marple não lidam diretamente com risco à própria vida, aqui, esses jovens detetives se tornam também alvo dessa organização.

Mas, como estamos falando de Agatha Christie, há o toque pessoal da autora que transforma esse thriller político em uma experiência diferente: é um thriller mais leve com pitadas de comédia social que dão um tempero diferente para a trama de espionagem. É o bom e velho estilo Agatha Christie de contar histórias.

O mistério dos sete relógios

Agatha Christie

L&PM Pocket, 2013

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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