Paisagens literárias de Claudia Nina

Claudia Nina transita com desenvoltura entre os papéis de autora e observadora atenta do ambiente literário brasileiro. Jornalista, ex-editora do caderno Ideias e livros do Jornal do Brasil e romancista da Rocco, Claudia estreou nos livros com A palavra usurpada (2003) sobre a obra de Clarice Lispector. Em seguida veio A literatura nos jornais: a crítica literária dos rodapés às resenhas (2007) e, só então, deu-se sua entrada na ficção com o infantil A barca dos feiosos (2010).

Para o público adulto, lançou Esquecer-te de mim (2012) e Paisagem de Porcelana (2014). Antes disso, em 2011, ainda voltou à não ficção com ABC de José Cândido de Carvalho. Assina uma coluna mensal na revista Seleções do Reader’s Digest onde mantém afiado seu senso crítico sobre a produção literária contemporânea. Com vocês, Claudia Nina.

Seus primeiros livros foram de não ficção. Como aconteceu essa passagem para a literatura ficcional?

Claudia Nina: A ficção era meu desejo secreto desde sempre. Contudo, meus caminhos profissionais me fizeram estagiar longos anos na área de não-ficção, o que foi um ganho de certa forma. Acho que as redações e os espaços diversos que meu texto jornalístico habitou ajudaram a criar internamente uma espécie de oficina literária, ainda que eu não estivesse produzindo ficção. Aprendi muitas coisas, como, por exemplo, a lidar com a emoção, a ter coragem de encarar a informação, a enxugar o texto, enfim, um equilíbrio constante com a palavra na ponta da vara, como naquela mágica equilibrista dos circos.

Você escreveu o livro A palavra usurpada, sobre a obra de Clarice Lispector. É possível encontrar algo da escrita dela na sua escrita?

Claudia Nina: Acho que a procura por uma sintaxe estranhada. Gosto disso. Micro-surpresas dentro da linguagem, inverter sentidos, fazer metáforas imprevistas, parcerias estranhas entre substantivos e adjetivos…

Além de escritora você também é jornalista. Cristiane Costa, outra escritora e jornalista, publicou um livro sobre escritores jornalistas no Brasil analisando, a partir de entrevistas, se o trabalho de jornalista ajuda ou atrapalha o ofício de escritor – pois, apesar de ambos trabalharem com texto, enquanto um respalda-se no real o outro exercita o mundo ficcional . Qual a sua opinião sobre isso:  eles se complementam ou se repelem?

Claudia Nina: Complementam-se, claro. Nunca me arrependi de não ter feito uma Faculdade de Letras. O Jornalismo me deu tudo o que eu precisava. Depois eu segui e fiz metrado e doutorado em Letras, mas neste caso não foi por um desejo de aperfeiçoar o texto e sim com o objetivo de estudar a ciência literária. Para o texto, como eu disse, a Comunicação e o trabalho com o Jornalismo foram minhas oficinas literárias.

claudia ninaNo livro A literatura nos jornais: a crítica literária dos rodapés às resenhas você analisa a crítica literária nos jornais.Nos tempos atuais, em que houve um esvaziamento dos cadernos literários, principalmente em termos de espaço para a crítica, como você vê a influência dos meios de comunicação nas escolhas literárias dos leitores?

Claudia Nina: Pouca influência, pois são poucos os veículos e limitado o acesso dos leitores aos mesmos. Acho que o melhor trabalho de divulgação ainda é aquele feito a partir do contato direto dos autores com os leitores. As festas literárias, os eventos, os salões, as visitas em escolas, todo este trabalho demorado e eficaz é o que fará com que no futuro a gente tenha mais leitores – sem falar no trabalho com a educação, mas isso é óbvio.

O seu infantil Nina e a lamparina foi inspirado na sua filha caçula. Ser mãe ajuda na hora de criar histórias para as crianças? Qual leitor é o mais exigente: o adulto ou a criança?

Claudia Nina: Ajuda muito. No meu caso, a oficina literária infantil se dá diariamente no convívio com elas, que me inspiram, me criticam e me aplaudem. Penso que o leitor mais exigente seja o adulto, talvez porque eu seja, como adulta, a minha maior crítica. Então, eu me aniquilo muitas vezes. Releio dezenas de vezes os originais, refaço parágrafos inteiros… No caso dos infantis, a criança que eu tenho em mim conversa com as minhas meninas e, juntas, fazemos a nossa ciranda literária em casa. É um trabalho mais alegre e com menos cobrança.

E na hora de criar um livro para o público adulto ou um livro para o público infantil, o que muda?

Claudia Nina: Muda tudo. Quando escrevo para adulto eu mergulho em uma atmosfera muito densa, como se eu precisasse de um escafandro para testar águas profundas… A criança é o oposto: tenho que me trazer à claridade e tirar de mim a minha melhor transparência.

Em Paisagem de Porcelana, a protagonista é uma mulher vivendo em uma terra estranha. Você também já esteve nessa situação. Em que ponto termina a influência da Cláudia sobre Helena, a protagonista, e começa a ficção?

Claudia Nina: A vida é o ingrediente que a minha ficção irá entortar, como o mágico faz com a colher. Eu quase sempre parto de uma experiência real e lúcida e transfiguro os fatos quase ao ponto da loucura. Sem medo.

Recentemente você participou da coletânea Vou te contar – 20 histórias ao som de Tom Jobim, organizada por Celina Portocarrero. É um desafio para uma escritora com dois romances lançados dedicar-se ao conto? Como os dois gêneros vivem em você?

Claudia Nina: Convivem com intensidade. Adoro desafios literários. Eu me identifico mais com os romances pela possibilidade de desenvolver uma ideia com mais espaço e bifurcações, mas tenho me apaixonado pelos contos. Recentemente, o Sergio Tavares me propôs um desafio incrível, que foi criar um conto a partir de uma foto. Estou louca para participar de outros.

Que dica de criação literária você daria para os novos autores que buscam alcançar um lugar no mercado?

Claudia Nina: A melhor dica para mim é escrever e escrever sem se preocupar em publicar com pressa. Eu demorei a publicar ficção. Nunca tive pressa. Outra coisa é aceitar a orientação dos editores. Não achar que sabe tudo nem que o texto é brilhante. Em duas palavras: calma e humildade.

Para quem quiser saber mais sobre a carreira de Claudia Nina e acompanhar suas novidades, pode visitar seu blog de Claudia Nina ou seu site de Claudia Nina.

 

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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