[Resenha] Pindorama de Sucupira, a outra história

Pindorama de Sucupira

Não é nenhuma novidade que a História é contada sempre a partir do ponto de vista do vencedor. É essa a versão que se propaga e torna-se “oficial”. O que pode ser novidade para muitos é existir uma outra história paralela a essa, sem registro nem divulgação, que acaba sendo esquecida, apagada de vez da memória coletiva. É essa outra história, menos conhecida mas nem por isso menos sincera, que Nara Vidal ficcionaliza em Pindorama de Sucupira, seu novo livro infantil.

“Muitos livros de História falam de nós como um povo atrasado. Mas a verdade é que vivíamos felizes, autossuficientes, plantando e caçando o que precisávamos. Felicidade para nós era ser simples, como éramos. Mas ser simples é muito complicado”, relata Sucupira, a indiazinha protagonista que, cheia da sabedoria infantil tantas vezes ignorada, nos traz um relato alternativo daquele que costumamos aprender. Ao comentar sobre a chegada das naus do descobrimento, Sucupira diz: “Ficamos lá na praia, que era a nossa casa, esperando a tal visita se apresentar. Afinal, quem quer que estivesse naquele barco grande não era convidado da nossa tribo. Imagine alguém chegando a sua casa sem ser convidado? Que chato!” É ou não é uma baita sabedoria tantas vezes vezes esquecida pelos adultos até mesmo nos dias atuais?

O estranhamento permeia Pindorama de Sucupira

O estranhamento causado pelo novo, que permeia toda a narrativa de Pindorama de Sucupira,  pode transformar-se em repúdio ou aceitação. Ou talvez, se percebido de forma menos belicista, pode transformar-se em oportunidade. E a pequena grande Sucupira, sem abandonar sua visão crítica, enxerga na chegada dos portugueses justamente uma oportunidade, que traz consigo ganhos e perdas perpetuados de geração em geração. “Talvez a maior herança dos portugueses para nós, indígenas, tenha sido a Língua Portuguesa (…) Infelizmente, a minha língua praticamente acabou. Quase ninguém mais fala o Tupi. Ganhar a Língua Portuguesa foi, sem dúvida, uma alegria, mas perder o Tupi foi, sem dúvida, uma pena.”

Nara Vidal é dessas mineirinhas que vem chegando de mansinho, com o prosear malemolente de quem sabe das coisas e vai contando um causo aqui, outro acolá. Nesse novo livro vem se firmando como uma exímia contadora de causos, ou melhor, de histórias, daquelas que sabe usar as palavras para envolver e plantar sementinhas promissoras no pequeno leitor. Sua Sucupira é uma personagem encantadora, uma prosadora à imagem e semelhança da própria criadora, quiçá seu pequeno alter ego. E a menina nos é apresentada nos traços poéticos de Bruna Assis Brasil, cujas ilustrações nos remetem a um Brasil eternamente aquarelado pela natureza.

Depois de ler Pindorama de Sucupira pode ser que o pequeno leitor venha a ter a sua própria versão da História, resultado das sementinhas críticas plantadas pelas meninas Nara e Sucupira. “Mas nem tudo que os tais portugueses trouxeram foi ruim (…) Trouxeram histórias que eles diziam, por medo de esquecê-las e por querer passá-las adiante, eram registradas, eram escritas. Vimos então, pela primeira vez, os livros!” E, graças a isso, é que conhecemos a história dessa indiazinha engajada e sua Pindorama. “Sim, Pindorama, e não Brasil!”

Pindorama de Sucupira
Nara Vidal
Penninha Edições, 2014
16 páginas

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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