Desvendando A paciente silenciosa

A paciente silenciosa, obra publicada pela Record, combina elementos de dois gêneros literários: o thriller psicológico e o romance policial. A trama propicia uma reflexão sobre o profundo impacto dos traumas de infância, as dificuldades de se libertar do passado e a complexa relação entre paciente e terapeuta.

O romance centra-se em dois personagens principais: o psicoterapeuta Theo Faber e sua paciente, Alicia Berenson, após ela ter, aparentemente, assassinado seu marido, Gabriel Berenson. Incapaz ou sem vontade de falar após o assassinato do marido, Alicia é a “Paciente Silenciosa” do título do romance.

Seu silêncio característico, mantido até os capítulos finais do romance, oferece um desafio profissional único a Theo, um psicoterapeuta que emprega a “cura pela fala” derivada de Sigmund Freud. Theo também começa a investigar a história de Alicia para alcançá-la por meio de seu silêncio. Ao entrevistar seus amigos e familiares, Theo emprega métodos mais apropriados para um detetive do que para um psicoterapeuta, e seu comportamento cada vez mais antiprofissional levanta questões sobre suas próprias motivações pouco claras e duvidosas para dedicar tanto tempo e energia a um único paciente.

Vamos começar olhando para algumas técnicas narrativas utilizadas pelo autor ao longo da narrativa:

  1. A dupla narrativa

A história de A paciente silenciosa é contada por meio de duas vozes principais: a primeira é Theo Faber, o psicoterapeuta que vai tratar Alicia: a narração em tempo presente é feita em primeira pessoa, descrevendo sua obsessão em tratar Alicia e desvendar o mistério. A segunda voz é de Alicia Berenson, a paciente silenciosa: o passado é revelado por meio de registros de seu diário, que fornecem um vislumbre de seus pensamentos e experiências que levaram ao assassinato.

Outra técnica utilizada é a linha do tempo não linear: os capítulos alternam entre o presente (a história de Theo) e o passado (registros do diário de Alicia que se passam seis anos antes). Isso cria uma sensação de suspense e permite que o autor vá revelando pistas gradualmente ao longo do tempo.

Mais uma técnica é a do narrador não confiável: a perspectiva de Theo pode ser tendenciosa, levando os leitores a questionar seus motivos e estado mental à medida que ele se torna cada vez mais obcecado pelo caso de Alicia.

O autor também utiliza prenúncios (que é o foreshadowing) e pistas falsas para manter o leitor grudado nas páginas: a narrativa é repleta de pistas sutis e detalhes enganosos que mantêm o leitor na dúvida e sugerem que nem tudo é o que parece.

O efeito do suspense psicológico também está presente em A paciente silenciosa: a combinação da narrativa dupla e da linha do tempo não linear mantém os leitores envolvidos, construindo lentamente a tensão e criando um quebra-cabeça psicológico complexo para resolver.

Vamos dar uma olhada agora na estrutura utilizada para contar a história. A história de A paciente silenciosa é construída a partir de múltiplas camadas para conduzir o leitor a um final chocante e surpreendente.

Primeiro Ato: o setup ou configuração da história

O primeiro ato apresenta o mistério central e os principais participantes do jogo psicológico. Temos, inicialmente, o fato desencadeador: a história começa com o fato estabelecido de que Alicia Berenson, uma pintora famosa, assassinou seu marido, Gabriel, e desde então se recusa a dizer uma única palavra. Este ato singular e inexplicável de violência atrai tanto o público quanto Theo Faber, o psicoterapeuta.

E qual o objetivo do protagonista? Theo, um psicoterapeuta forense com seu próprio trauma de infância não resolvido, está determinado a desvendar o mistério do silêncio de Alicia. Ele aceita um emprego no The Grove, a clínica psiquiátrica de segurança máxima onde Alicia está internada, com a missão pessoal de fazê-la falar.

Aí começa a narrativa dupla de A paciente silenciosa: a história alterna entre a narração atual de Theo e as anotações do diário de Alicia das semanas que antecederam o assassinato. O diário apresenta um relacionamento amoroso aparentemente normal, criando suspense ao contrastar o relato escrito de Alicia com seu crime violento.

Segundo Ato: o Confronto

Este ato vai aumentando os riscos à medida que Theo se aproxima da verdade, enquanto ambas as narrativas revelam segredos mais profundos e uma maior turbulência psicológica. Há um momento de ação crescente: Theo usa táticas diferentes, incluindo arteterapia, para se envolver com Alicia. Ele descobre mais sobre seu trauma passado e seu casamento complexo com Gabriel. Sinalizando um avanço no tratamento, ela lhe entrega seu diário, dando-lhe um novo conjunto de pistas.

Aqui temos o Midpoint, a reviravolta no meio da história de A paciente silenciosa: o diário revela que Alicia estava sendo perseguida nos dias anteriores ao assassinato de Gabriel. Isso apresenta um novo suspeito e intensifica a investigação de Theo, levando-o a explorar as conexões de Alicia fora do hospital.

O autor vai criando paralelos entre os personagens: à medida que Theo se aprofunda na vida de Alicia, sua história pessoal é explorada.

Terceiro Ato: a Resolução

O terceiro ato apresenta um clímax chocante e uma resolução que recontextualiza toda a história. No clímax, as duas tramas de A paciente silenciosa convergem dramaticamente em direção aos capítulos finais. Esse é o grande momento quando descobrimos, então, o que aconteceu na noite do assassinato.

Depois disso temos o desfecho, quando novas revelações são feitas e nós entendemos o verdadeiro papel dos personagens na trama. O final acaba amarrando os pontos levantados no início, retomando a questão dos traumas de infância, das dificuldades de se libertar do passado e da complexa relação entre paciente e terapeuta.

A paciente silenciosa é uma narrativa que desafia os leitores a seguirem as pistas camufladas que vão sendo deixadas ao longo da leitura e a resolver o mistério antes do final do livro. São muitas as possibilidades que vão sendo abertas à medida que a trama avança, mas há grandes chances de você se surpreender com alguma das reviravoltas da história.

A paciente silenciosa

Alex Michaelides

Editora Record, 2019

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Sobre o Autor

Ronize Aline
Ronize Aline

Ronize Aline é escritora e consultora literária. Já foi crítica literária do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, e trabalhou como preparadora de originais para várias editoras nacionais. Atualmente orienta escritores a desenvolverem suas habilidades criativas e criarem histórias com potencial de publicação.

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